segunda-feira, 11 de abril de 2011

Ancião


Sempre gostei muito de estar perto de velhos. Desde criança. Adorava ouvir suas histórias. Acreditava nelas, mesmo sendo mentiras. Ouvi com muita freqüência na adolescência que eu parecia mais velha do que realmente era. Tinha sempre alguma opinião sobre qualquer assunto. Muito determinada! Hoje talvez concorde e acredite, pelo fato de ter convivido e me alimentado da sabedoria destes anciões. E, claro, existiram algumas situações durante a vida que me forçaram a um amadurecimento prévio. Pois bem, lendo um livro com vários personagens envolvidos em algumas tramas, eis o que mais gosto: Um velho de quase 80 anos. O trecho que resolvi destacar é o final do diálogo entre Lúcia, personagem central e o ancião de 80 anos e resume com total lucidez a “moral” da história.

“Quando se chega a viver tanto quanto eu, enfim, começa-se a intuir que dentro da desordem do mundo há certa ordem. Talvez isso seja produto da minha necessidade, uma defesa ante a desolação e a falta de sentido, mas o certo é que, a cada dia que passa mais evidente me parece que a harmonia existe. Que acima do fragor das pequenas coisas há uma serenidade universal, sublime. Tão universal e tão sublime que certamente serve muito pouco de consolo quando o horror se abate sobre nossa pequenez, sobre o aqui e o agora. Mas às vezes a consciência se consola com essa percepção global do equilíbrio, com intuição de que tudo está relacionado de algum modo. Por exemplo, a dor. Sabia que existe uma síndrome de incapacidade genética de perceber a dor? Pois existe, sim; e as crianças que nascem com essa doença morrem muito cedo, porque não sentem os ferimentos que sofrem e não descobrem as infecções ainda no inicio. São crianças que se queimam ao se apoiarem em estufas ferventes ou que não mudam de posição durante horas, de modo que com freqüência seus braços e pernas necrosam. Quero dizer que até a dor, tão abominável, tão impensável, tão inadmissível, pode ocupar um lugar no sistema, pode ter uma razão de ser: de fato, ela nos ajuda a nos mantermos vivos.”


Ps: Recomendo o livro: A filha do canibal da escritora espanhola Rosa Monteiro.

Nota: Segundo crítica do Jornal espanhol El País, a Filha do Canibal transita entre o suspense policial e o romance de formação. As peripécias do suspense resultam numa viagem ao coração do romance, que consiste na busca de um sentido para a própria vida.

8 comentários:

  1. Tb li um livro sobre o sentido da vida, mas ele não era lá tão profundo... ahuahu (o Guia do Mochileiro das Galáxias)

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  2. Vou te emprestar o livro Marthinha!!!
    Daniii, era HQ???

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  3. Não... é o livro q deu origem ao filme (q ainda nao assisti)

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  4. Manuzita, adorei! Quero ler depois, hein!

    Ah, claro que te emprestarei algum meu tbm, rsrs.. Tenho aqui "Se eu fechar os olhos agora" (Edney Silvestre)! Muito bom!

    Comprei semana passada "Os Detetives Selvagens" (Roberto Bolano) mas nem comecei a ler ainda.

    PS: Dango, já vi o filme... Hum, achei 'marromenos'. Não li o livro, mas acho que é melhor que o filme (!)

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  5. Claro que te empresto Mello, acho q vai gostar. Agora vou terminar o Lobo da Estepe de Hermann Hesse e começar um que peguei emprestado...depois quero ler: Se eu fechar os olhos agora!!!

    Humm Dan...quero ler esse livro tb!!

    Beijos meninoss!! Saudades!!

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  6. É isso mesmo. Os livros são bons quando nos tocam de algum modo.
    Eu já li este e gostei, aliás gosto do estilo da escritora. Recomendo "A história do rei transparente".
    Patricia

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  7. Ótima recomendação!!! Tb já li a Histótia do Rei Transparente, tb dela, e achei fantástico!!

    Beijos!!

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