quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Amor fugaz


Ainda que eu pudesse escutar as vozes escondidas no seu canto
Não saberia esconder algum descontento
Porque a verdade nua é minha maior qualidade
Ou defeito
Não sei
O seu canto esconde mágoas
Que eu não sei de onde
Mas o que mais me canso
É do seu amor fugaz

Texto: Manu Sena
Imagem: Manu Sena

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Conto - A casa de reabilitação por Marivaldo Dias

O professor Marcos Trinnidé abre a porta do ônibus escolar, penteia os cabelos com os próprios dedos, olha-se pelo retrovisor, por instante contempla sua imagem, escorrega sobre o bigode os dedos polegar e indicador, estufa o peito, prende o ar e faz um pequeno discurso a seus alunos, que se aglomeram nas poltronas do veículo escolar e em silêncio escondem expectativas com o evento.
- Aqui a Casa de Reabilitação de drogados – orienta o mestre -, uma oportunidade de vivenciarem nesse quadrante de mundo dramas e superações humanas!
Marcos Trinnede é ocupante titular de uma disciplina no Instituto de Toxologia Aplicada (ITA), dedica-se em pesquisar os efeitos das drogas, observa as alterações comportamentais dos consumidores e viciados.
A casa de Reabilitação é uma entidade mantida por parentes que tiveram ou têm pelo menos alguém na família envolvida com algum tipo de droga, que encontrou na cooperação a forma mais solidária e eficiente de lidar com tratamento e contribuições de fundos sociais públicos. Enquanto Marcos Trinnidé assina a autorização que permita a visita de seus alunos, Jorge cutuca Angelina para chamar sua atenção do vestuário dos pacientes, que se distinguem pelas cores dos uniformes que vestem e vinculam-se ao progresso do tratamento.
A arquitetura da Casa é antiga, disposta em semi-circulo, dividida em dez pavilhões que se projetam ao escritório administrativo na parte superior, constitui-se uma visão panorâmica geometricamente em arcada, permite acompanhar quase toda movimentação administrativa e o comportamento dos viciados; em frente de cada pavilhão estão dispostas áreas circulares reservadas para atividades esportivas e culturais; na lateral direita do semicírculo destaca-se o ambulatório, que é dirigido pelo médico-diretor Dr. Danilo Sapucaia, que compõe equipe de dez profissionais de saúde. Artur, demonstra inquietações com o ambiente com base na observação e volta-se para Dr. Danilo Sapucaia, que recepciona o professor Marcos e seus alunos, e questiona: - crê com sinceridade que, recuperadas as suas faculdades cognitivas, essas pessoas sairão aptas a integrarem-se às relações como têm prometido os dirigentes da instituição nas suas palestras?
- Sua questão - considerou o diretor Marcos Trinnnidé - tem sido exaustivamente discutida pelos profissionais e a família, como o pode reparar no manual dentro da pasta que acabou de receber e descreve resumidamente o conhecimento que já se acumulou sobre o binômio causa-efeito das drogas no organismo humano e também sobre os progressos no tratamento clínico.
- Aqui – prossegue o diretor - na Casa de Reabilitação de Drogados (CRD) já temos progredido com resultados bastante satisfatórios, deve-se considerar nos resultados o papel, que em muitos casos determinante, das famílias ao integrarem no processo de recuperação dos viciados.Têm-se aqui experiências de reabilitação, sob vigilância social, principalmente da família, e há situações de retorno de drogados à CDR. – Por que - interrompe Luíza - essas pessoas são distinguidas em grupos através de vestimentas por diversas cores? O diretor continua: - como se vê, cada grupo de drogados tem semelhanças e são identificados nos diversos alojamentos pelas cores do vestuário de acordo com o progresso que cada grupo apresenta-se, o que facilita o modo terapêutico, que definida pela equipe de profissionais e com isso favorece o estudo, acompanhamento e controle dos resultados.
Enquanto o diretor conversa com os visitantes, ao lado direito do ambulatório ouvia-se uma discussão.
- Large-me! deixe-me! Vocês me roubaram! Vocês invadiram meu mocós e levaram minha trouxa de baseado, seus ladrões! Em seguida, em cima de uma maca e vestido de uniforme verde e carregada por dois enfermeiros, o paciente verde-05 (assim são identificados) sedado é encaminhado para o ambulatório para início do tratamento, que inicia paulatinamente com o processo de abstinência.
- Este estado de “larica” é comum, principalmente no início do tratamento e visa a desintoxicação, onde os pacientes são submetidos a abstinência unilateral, proibindo acesso a qualquer “tapa” de um beck, por isso a reação do verde05.
Os estudantes entreolharam-se, com os músculos da face tesos de espanto e curiosidade desenhados com o movimento de interrogação e, em gargalhada antecipou as perguntas dos estudantes: - sei da razão dos seus espantos, pois “larica”, “tapa”e “beck” são termos usais dos usuários de maconha e que significam fome química, isto é, déficit da droga no organismo; “tapa” significa uma fumada e beck é a unidade de cigarro. Sem disfarçar os estudantes baixaram a cabeça como se tivessem a refletir sobre um mundo real dos drogados diante deles, que só tinham conhecimento nos discursos dos políticos e dos efeitos dramáticos na literatura e nas páginas policiais dos jornais e nos dramas privados das famílias.
Enquanto os estudantes observavam o desespero dos drogados em função da abstinência, ouvia a palestra do diretor, que argüido dos males da maconha, respondeu: - essa é a porta de entrada das demais drogas, pois é barata, fácil acesso, seu uso continuado interfere na aprendizagem, memorização e na fertilidade, causa vermelhidão nos olhos, secura na boca, taquicardia, angústia e medo em alguns, calma e relaxamento em outros, redução da imunidade pela queda dos glóbulos branco, sinusite crônica, faringite, constrição das vias aéreas, atua sobre o equilíbrio, movimentos e ... O diretor é interrompido por Isabel - uma aluna do professor Marcos Trinnindé - e o interrogou sobre a substância química encontrada na maconha variava de espécies. O diretor, por alguns segundos, consulta o resultado de pesquisas recentes patrocinadas por uma universidade pública na França e publicada nas principais revistas científicas dos EUA e Europa e conclui: - O princípio ativo da maconha é o THC, tetrahidrocanabinol, e a potência é de acordo com a quantidade média de THC, que varia entre 3, 6 % a 43%, de acordo a forma de seu cultivo e também da espécie.
A estudante Josefa percebeu que também há uma relação entre separação de grupos viciados por cores e tipo de drogas que os viciados consomem de modo predominante, que a leva a questionar do diretor.
- Isso mesmo Josefa- interrompeu o diretor -, de fato essa ala amarela acomoda os viciados em Heroína, pois quando chegam para o tratamento, já se encontram no estágio quase final de expectativa de vida. Essa senhora trouxe seu filho, que aqui foi batizado de Amarelo 16, e encaminhado direto para o Ambulatório e encontra-se em observação para em seguida submetê-lo aos exames e diagnosticar o grau de lesão causada por essa e iniciar-se em seguida o tratamento.
Enquanto o Diretor voltava-se para Josefa para esclarecer sua indagação, os demais estudantes ouviam-o atentamente, também observa nos movimentos dos internados, que debatiam, em função da abstinência e aquela agitação de desespero clamavam por anestésico, pois expõem as fraturas do desespero e da tragédia e repercutem nas famílias, que se encontram como condição institucional no tratamento do seus entes. A senhora, mãe de Amarelo 16, acaba de ser convidada para uma reunião no escritório do Diretor, que será informada do relatório que acabara de ser concluído. O diretor pede licença aos jovens estudantes para conversar com a senhora Inês e em seguida volta ao encontro dos jovens. Antes de qualquer manifestação do diretor, o jovem estudante Florindo o interpela.
- Tenho um primo viciado em heroína, adianta Florindo, mas seus familiares já não sabem mais o que fazer, pois de quando em vez é internado e foge da clínica de desintoxicação.
- Abstinência – explica o diretor - é a fase mais difícil, pois a heroína é produzida a partir de uma modificação química da morfina, que deriva do ópio, que determina dependência física e psicológica e seu uso é feito pelas narinas ou por meio de injeção. No início do tratamento a abstinência causa náusea, vômitos, pupilas dilatadas, hipersensibilidade à luz, elevação da pressão sanguínea e da temperatura, dores em todo o corpo, insônia, crises de choro, tremores e diarréia.
O médico-diretor é interrompido para situar o caso do paciente e sua relação com aquela senhora loira, ele relatou, que se tratava da esposa do Amarelo 16 e o diagnóstico era desesperador, pois sua condição de drogado já se tornou crônica. De acordo com o diretor a esposa confessou que não há mais motivos de continuar sua vida de casados, mesmo que ele consiga ultrapassar a fase de abstinência. Ela confessou ao Diretor o óbvio para os profissionais de saúde, que sua relação com o marido é apenas de um ente clínico e de solidariedade. As relações sociais dos dois são nulas, pois a vida do marido resume-se ao sono, fuga da realidade, já não há mais relações sexuais, enfim, não há sentido que possa justificar para si mesma, que não seja apenas solidariedade.
Soa a sirene do portão e o vigilante aproxima-se, identifica os ocupantes e autoriza o desembarque no Ambulatório. Duas crianças, já em estado vegetativo são deixadas na maca, que são levadas para a sala de observação. Depois desses procedimentos e medicadas serão encaminhadas para a ala vermelha e receberão os devidos números de identificação.
- Dr Diretor – interroga a estudante Marilda - a Casa de Reabilitação recebe muitas crianças? O diretor baixa o tom de sua voz, seus olhos lacrimejam e com a voz embargada, tenta disfarçar o incômodo e aponta a ala vermelha.
- Lá, minha jovem, concentra mais de setenta por cento de crianças drogadas em Crack, essa droga está matando o nosso futuro, principalmente as crianças pobres! - Essa droga –enfatiza com o tom de sua voz grave - leva dez segundos para fazer efeito, gerando euforia e excitação; batimentos cardíacos acelerado, seguido de depressão, delírio e “fissuras” por novas doses. O crack é cinco a sete vezes mais potentes que a cocaína. As primeiras sensações são de euforia, brilho e bem estar, na segunda vez, elas já não aparecem, logo os neurônios são lesados e o coração entra em descompasso de 180 a 240 batimentos por minuto, há risco de hemorragia cerebral, fissura, alucinações, delírios, convulsão, infarto agudo e morte. Como se vê – conclui o Diretor – essa droga está destruindo os jovens, como disse, principalmente as crianças pobres em função do baixo preço no submundo das drogas.
Enquanto os estudantes reuniam-se para ajustar suas anotações sobre as informações que colhiam na CRD, aproximava-se em direção do grupo um casal com a aparência de pós-juventude precoce, sendo que a mulher aparenta-se pouco mais de 35 anos de idade, cabelos lisos e curtos, olhos grandes, lábios finos e descorados; busto largo, na sua extensão eqüidista em simetria seus seios no formato de pêra, vestidos por uma blusa indiana de tecidos finos; seu abdome segue a mesma linha reta à cintura, que em relevo desenha nos quadris numa curva regular côncava alinhada a vulva; suas coxas são cobertas por uma saia de seda branca, que prolonga até os tornozelos. Ao seu lado segue-se um homem com aparência de 45 anos, cabelo raspado e desenhado as marcas de acidentes, rosto largo e adornos nas orelhas; vestido com uma camiseta branca de gola aberta, calças de caqui-exército e chinelos feitos pela singularidade ajustada, própria de encomenda artesã, constituídos de borracha de pneus. Apresentam-se ao grupo e oferece apoio e são informados da pesquisa que os estudantes realizam-se naquela instituição.
- Qual a motivo que levaram vocês se internarem na CRD? - Questionou Assis. Antes da resposta a indagação do estudante Assis, o Diretor Sapucaia interveio e respondeu.
- Mário e Elizabeth compõem-se a coordenação executiva do CRD, têm sido as principais referências positivas de recuperados em droga da instituição. Curaram-se do alcoolismo e compõem-se em uma dupla requisitada para palestras sobre as possibilidades reais da recuperação de drogados, principalmente do alcoolismo. O alcoolismo - enfatiza o diretor - é a substância psicoativa mais antiga da humanidade, seu uso regular e permanente têm implicações danosas no sistema digestivo, câncer da boca, faringe, laringe e esôfago; atrofia do cérebro, demência,varizes abdominais, atrofia testicular, pancreatite, edema de tornozelo, tremor, cirrose, vasos sanguíneos dilatados, coração aumentado e enfraquecido. Afeta a capacidade intelectual, memória e destrói a vida social e afetiva do dependente – continua o diretor.
– Quantidades maiores de bebidas alcoólicas ao longo prazo aumenta o risco do desenvolvimento de certos tipos de câncer, especificamente no esôfago, boca, garganta e cordas vocais e as mulheres são suscetíveis de adquirir câncer de mama. Portanto aqui na instituição é grande o número de pessoas que são internadas para o tratamento do alcoolismo, que fica logo ali na ala branca do instituto em que Mário e Elizabeth, quando vieram para o tratamento eram chamados Branco 17 e Branco 21, respectivamente.
Leila levanta a mão e pergunta ao Diretor.
- Diretor Dr. Danilo Sapucaia, aqui na instituição tem alguma ala responsável pelo tratamento de fumantes?
Sem mais delongas, foi enfático o Diretor.
- Sim minha jovem estudante, logo ali no pavilhão preto, ao lado do pavilhão cinza destinado aos viciados de cocaína. O fumo é o maior responsável pelas faringites, bronquites afastam o apetite, tremores, perturbações da visão, diversos tipos de câncer, sobretudo do pulmão e doenças cardiovasculares, como a angina do peito e enfarte do miocárdio. Além do câncer do pulmão produz bronquite crônica, enfisema pulmonar, úlcera de estômago e do duodeno.
Além do câncer do pulmão, de que o fumo é maior causador, produz bronquite crônica, enfisema pulmonar, coronariopatias, úlceras do estômago e do duodeno, câncer da língua, da faringe. A ação da nicotina é exercida pelo sistema sobre o sistema parassimpático e simpático, liberação de adrenalina, influi na diminuição do consumo do oxigênio e, além de prejudicar o organismo em geral, vai diretamente ao cérebro, coração e circulação.

- Apenas um cigarro - lembra o professor Marcos Tinnidé - é suficiente para contrair todos os vasos sanguíneos do corpo. E a fumaça de um cigarro é o bastante para contrair os vasos capilares das pernas.
O fumante sofre, em cada trago, endurecimento das artérias, fazendo o coração trabalhar mais depressa, enquanto os pulmões absorvem monóxido de carbono, amônio, ácido carbônico, piridina e substâncias alcatroadas que passam a circulação do sangue. O monóxido de carbono também origina dores de cabeça; o amônio irrita as narinas e a garganta, a piridina irrita os brônquios e as substâncias alcatroadas engrossam a língua, sujam os dentes e determinam câncer na boca e na língua.
O professor Marcos Trinnidé reúne seus alunos para avaliarem as experiências do encontro e agradece a gentileza dos profissionais por terem recebido a equipe com entusiasmo e presteza, principalmente a grandeza intelectual do Diretor Dr. Danilo Sapucaia. Nos semblantes dos estudantes, ainda sob o impacto da experiência, celebram-se entre si o pacto de se voluntariarem em defesa do esclarecimento social, principalmente com a juventude. Portanto na corrente da tragédia social que a droga arrasta, o consumidor é o oxigênio que sustenta o fogo da violência e as cinzas da dor. Pois cada pitada de um cigarro de maconha, uma inalada de cocaína ou heroína, o clarão da pedra de crack, com certeza engatilha contra a vida e espelha terror, golpeiam de morte os sonhos iluministas, que cede lugar ao apagão e aridez das trevas; rega com o suco denso da estupidez do Capital e destrói coisas belas.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Caia no samba!!




No dia 01/02 o projeto "Samba da Igreja"contou com a participação super especial de Jussara Silveira e Márcia Short. E ainda com o grupo Paroanosaimió, abrindo o evento.
Este projeto vem acontecendo toda segunda no Espaço Cultural da Barroquinha, com Sandra Simões, Mazzo e banda comandando a festa e contando sempre com algum convidado.
Para quem ainda não conferiu, tem chance de aproveitar. Na próxima segunda, 08/02, acontecerá à última apresentação do projeto. E a produção convida a todos para colocar algum acessório carnavalesco para já entrar no clima de carnaval!


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Yemanjá

Agradecer e Abraçar

Abraçei o mar na lua cheia
Abraçei o mar
Abraçei o mar na lua cheia
Abraçei o mar
Escolhi melhor os pensamentos, pensei
Abraçei o mar
É festa no céu é lua cheia, sonhei
Abraçei o mar
E na hora marcada
Dona Alvorada chegou para se banhar
E nada pediu, cantou pra o mar (e nada pediu)
Conversou com mar (e nada pediu)
E o dia sorriu...
Uma dúzia de rosas, cheiro de alfazema
presente eu fui levar
E nada pedi, entreguei ao mar (e nada pedi)
Me molhei no mar (e nada pedi) só agradeci

Composição: Vevé Calazans

Copyright © 2007 Direito reservado ao autor.